sábado, 24 de abril de 2010

De chocolate com morango da madrinha


Foto de Dimitris Ladopoulos

Eu já manifestei minha admiração pelas crianças, mas confesso que nem sempre foi fácil para mim me relacionar com elas. Tive a sorte de ter muitos pimpolhos que me ajudaram na árdua (e deliciosa) tarefa de lidar com a franqueza infantil.

Meu grande herói é meu afilhado. Minha grande heroína é minha prima, que me deixou ser madrinha do filho dela. Deus sabe que eu teria medo de confiar um filho meu a uma pessoa que não sabia (sim, espero que esse verbo pertença ao passado) conversar com uma criança. Eu tinha muito, mas muito medo daquele jeito espontâneo, daquela cara que eles fazem quando pensam "por que você está complicando tanto?", mas, acima de tudo, eu tinha medo da lógica infalível.

O neto de uma amiga da minha mãe uma vez torturou a avó. Acho que a mulher devia mesmo ser uma chata, mas ouvir do próprio neto que não gostava NADA da avó, isso é sacanagem! Ou não. Enfim, a pobre avó insistiu: "Mas você não gosta nem um pouquinho da vovó? Nem um tiquinho assim?". A criança, enfurecida com a insistência, respondeu: "Vó, você sabe o quanto é zero? Zero é nada! NA-DA!". Eu morreria. Não sei se a avó ainda vive.

Nem preciso dizer que fiquei eternamente grata quando vi que meu afilhado veio com um manual de instruções. Tudo o que eu precisava era perder o medo de atender àquilo que ele estava falando. "Madinha, não é assim! Agora você precisa fazer assim, ó!". E eu seguia as instruções. Simples assim. Levar bronca de uma criança de vez em quando não é problema indissolúvel. Claro que ela não pode virar a rainha má do castelo, mas quando você está brincando com ela, que mal há em embarcar em suas fantasias? Na verdade é até mais simples. Assim você não precisa desenferrujar seu cérebro viciado na realidade para criar algo novo e surpreendente. Simplesmente destrave o freio e vá, na banguela. Eles te puxam, empurram e brecam por você...

Todas essas conquistas são doces. Doces como festa de aniversário, com cheiro de vela e brigadeiro espremido em algum lugar escondido. Doces como quando minha prima perguntou para meu afilhado que bolo ele queria no seu aniversário... "De chocolate com morango da madrinha". Eu vivi naquele instante. Eu vivo para esses instantes.

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