quarta-feira, 21 de abril de 2010

"I brought you flours"

Essa é minha frase favorita. E eu não errei na escrita.

Para quem não assistiu "Stranger than Fiction", o filme fala sobre um homem que passa a ouvir uma narradora de sua vida. E ele vai morrer. And he brought her flours. Isso é tudo o que tenho a dizer sobre o filme. Assistam.

Sempre que penso nesse filme, penso em minha vida, em minhas escolhas, nas escolhas de muitas pessoas que conheço. Penso no valor das relações, na riqueza que um simples cookie tem, no significado que cozinhar tem para mim. Aprendi a cozinhar ainda muito pequena, quando minha mãe viu que seria melhor me ensinar antes que eu explodisse a cozinha.

Por muito tempo minha felicidade era separar as forminhas de papel para os brigadeiros. Eu achava que estava fazendo a festa inteira! Definitivamente essa deveria ser a tarefa mais importante. O que poderia ser mais importante do que brigadeiros confortavelmente acomodados em forminhas de papel coloridas, sem qualquer amassadinho, perfeitamente separadas? Nada.

Depois descobri os bolos, que me levaram às tortas, aos cremes, coberturas e a uma faculdade de psicologia. Sim, tinha algo estranho nessa ficção. Depois de três semestres vi que acho a psicologia linda, mas que não queria ser psicóloga. Guardei com muito carinho minhas experiências dessa fase e segui em frente. Prestei artes cênicas. Amo teatro, artes, expressão, mas me enganei mais uma vez.

Num belo dia um amigo veio me falar sobre um novo curso: gastronomia. Naquela época era novidade e acho que pela primeira vez tive medo de mudar de rumo, mas mudei. Fiz gastronomia. Foi como estar finalmente em minha pele. Não sei se todos conhecem essa sensação, mas tenho certeza de que aqueles que já experimentaram isso sabem que não há outra expressão que substitua. E quando você está em sua pele, finalmente, você não quer que te digam o que fazer ou não dela. Ela é sua e você nunca mais abrirá mão dela. Demorou a chegar, é mais precioso.

Fiz estágios em confeitarias, panificadoras e trabalhei em um restaurante. Por muito tempo cozinhei para desconhecidos, mas certa de que estava proporcionando um momento especial para suas vidas. Aquele breve instante em que o doce toca a ponta da língua e começa a derreter. As cores, formas e texturas que de tão lindas você tem dó de desmanchar. Mas nada se compara àquele instante, aquele olhar que mostra que você está compartilhando tudo isso com pessoas queridas.

Confortável em minha pele, mas não com o ambiente, fui estudar marketing. Já estava convencida de que na vida escolhemos formação, e não profissão. Mais uma vez me apaixonei, mas como toda boa paixonite, ninguém entendia o que havia de tão mágico nessa relação. Gastronomia e marketing não pode ser um casal! Pode? Pode. Pense bem.

Comecei um estágio numa empresa, conheci o dia a dia de marcas, continuei colecionando pessoas... Fui para uma consultoria, adicionei mais pessoas à minha coleção. E estou vivendo de bem com a minha pele e com o meu ambiente. E quando eu não estiver, mudarei mais uma vez, como as pessoas devem fazer.

Já me perguntaram se eu não tinha medo de não parar nunca. A resposta continua sendo não, eu tenho medo é de parar.

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